Por Dr. Felipe Pereira Mesquita
Médico – UFJF
Hematologia e Hemoterapia – UFMG
Sejam bem-vindos a mais um artigo aqui do blog do Centro Immunize. Hoje vamos conversar um pouco sobre vacinação no paciente imunocomprometido. Quando dizemos que uma pessoa possui a imunidade baixa, estamos nos referindo a algum problema na formação das defesas do organismo.Existem basicamente dois tipos de defesa: a celular e a humoral. A primeira delas se refere tanto à quantidade de células disponíveis para proteção do corpo contra infecções quanto à funcionalidade das mesmas. Ou seja: se um paciente apresenta poucas células de defesa ou se essas mesmas células funcionam mal, podemos dizer que este indivíduo tem uma deficiência na imunidade celular. Por outro lado, o imunocomprometimento humoral se refere à incapacidade de algumas células em produzir anticorpos de maneira adequada para combater vírus, bactérias e protozoários que podem atacar nosso organismo.
Atenção para as vacinas de vírus vivo atenuado.
Pois bem, tendo isso em mente vamos abordar alguns pontos importantes. Pacientes que possuem alguma doença de base ou que estejam em uso de tratamentos que reduzam demais a imunidade, devem ter maior cuidado quando forem se vacinar. De maneira geral, as vacinas constituídas por vírus vivo atenuado (ex: febre amarela, varicela, poliomielite oral) ou bactérias vivas atenuadas (febre tifóide e BCG) devem ser evitadas, pois são passíveis de causar doença. Em casos muito selecionados, após avaliação médica da causa de imunossupressão de base, podemos colocar na balança os riscos e benefícios de determinada vacina para uma pessoa em específico e decidir por vaciná-la ou não. Importante: damos pouca atenção à isso, mas os contactantes do paciente imunossuprimido DEVEM ser vacinados para que estes não transmitam as infecções.
Que tal alguns exemplos?
As doenças que causam distúrbios na imunidade podem ser tanto inatas quanto adquiridas; podem surgir na infância ou na idade adulta.
- Exemplos de doenças que podem cursar com imunocomprometimento: HIV/AIDS,Imunodeficiência Comum Variável, Agamaglobulinemia, Síndrome de Wiscott-Aldrich,Imunodeficiência ligada ao X, Anemia Falciforme, Histiocitose de Langerhans, NeoplasiasHematológicas (Leucemias, Linfomas, Mieloma Múltiplo), Neoplasias sólidas (hepática, pulmonar, mama …).
- Exemplos de tratamentos que causam imunidade baixa: Quimioterapia sistêmica (uso de Doxorrubicina, Vincristina, 5-fluorouracil, Ciclofosfamida), Drogas alvo (Rituximab, Brentuximab, Ibrutinibe, Venetoclax), Azatioprina, Corticóides em altas doses.
Se tenho problemas com a imunidade, a vacina pode não ser efetiva?
Devemos nos atentar também aos casos em que a administração da vacina não gera no organismo, a resposta esperada. Vamos pensar no caso de um paciente que trata para Leucemia Linfocítica Crônica e que está em uso de Rituximab. Essa medicação, por ser especialmente ativa sobre os linfócitos (células estas que produzem os anticorpos para defesa do nosso organismo), impede que a resposta adequada à vacina seja desenvolvida. Dessa forma, estaríamos expondo esse paciente aos efeitos adversos da vacinação que podem eventualmente acontecer , como reações alérgicas ou tremores, sem trazer qualquer benefício à sua proteção.
ConclusãoVimos então que a prática da vacinação leva a muitos benefícios, e que esta deve ser cuidadosamente planejada junto ao seu médico. No próximo texto trataremos um pouco mais sobre os pacientes submetidos ao Transplante de Medula Óssea e ao Transplante de Órgãos Sólidos.
Até a próxima!